Boletim do SINPRO

Sindicato dos Professores de Nova Friburgo e Região
(Av. Alberto Braune, 88 – Galeria São José – Ed. Tânia – salas 209/210 – Tel: 2522-4955)
NOVA FRIBURGO, AGOSTO DE 2009
SECRETARIA DE IMPRENSA, DIVULGAÇÃO E IMAGEM
sinpronf@uol.com.br

E A SAÚDE DOS TRABALHADORES DA EDUCAÇÃO, COMO FICA?


As recentes decisões tomadas pelas autoridades públicas e pelos diretores de estabelecimentos privados de ensino em relação à pandemia da gripe suína colocam, para nós, trabalhadores da Educação, a necessidade de fazer algumas reflexões. Em primeiro lugar, apesar de a grande mídia procurar jogar a responsabilidade pelo rápido desenvolvimento da epidemia no Brasil nas costas dos profissionais da saúde do setor público, acusando a estabilidade no emprego como principal fator de atraso e incompetência no enfrentamento ao problema, sabe-se muito bem que o quadro caótico em que se encontra a saúde pública em nosso país deve-se ao fato de o sistema ter sido sucateado pelos últimos governos de corte neoliberal, a fim de favorecer os planos de saúde particulares e as empresas privadas, da mesma forma em que se deu e continua avançando o processo de mercantilização do ensino.

Em segundo lugar, sem fechar os olhos à gravidade da situação, se faz necessária uma análise política: não é possível negar a existência de grandes interesses econômicos envolvidos na questão, principalmente aqueles relativos aos enormes lucros auferidos, neste momento, pelas multinacionais da indústria farmacêutica. Enquanto a gripe comum e enfermidades tratáveis com vacinas baratas continuam matando milhões de pessoas todo ano mundo afora, a gripe aviária (também conhecida como “gripe do frango”), que matou 250 pessoas em todo planeta no período de 10 anos, proporcionou grandes ganhos à transnacional Roche, proprietária do remédio Tamiflu. Será que a história se repete?

Medidas de saúde pública, sem dúvida, são urgentes e necessárias, mas estão faltando precisão e transparência na divulgação das informações, pois os governantes estão batendo cabeça e se contradizendo em relação aos números, à gravidade dos fatos e às iniciativas de combate à moléstia. Especificamente quanto à decisão de adiamento das aulas, não podemos ignorar que há especialistas criticando a iniciativa e questionando a sua eficácia, pois a mesma medida, adotada no México e nos Estados Unidos, não teria impedido que a doença continuasse se alastrando naqueles países. Questionamos ainda o fato de as decisões terem sido tomadas sem qualquer consulta aos trabalhadores, nem às suas representações sindicais.

Além disso, no discurso das autoridades e dos donos de escolas, parece estar ausente a preocupação com a peça fundamental da engrenagem que move a Educação neste país: o trabalhador. Mesmo não sendo consultados, professores e servidores deverão estar a postos para, a qualquer momento, repor as aulas perdidas, seja aos sábados, seja em todo o mês de dezembro e até em janeiro. Quiçá alguém também tenha a ideia de que as aulas sejam repostas nos domingos! Se o quadro é mesmo de calamidade pública, como a mídia e as autoridades querem fazer crer, mesmo sem o declararem de forma enfática, por que então o anúncio antecipado da reposição das aulas?


Querem acabar com as nossas férias e com o recesso de julho

A hora também é de ficar alerta diante da possibilidade de que novos ataques sejam desferidos contra os direitos dos trabalhadores, em função da situação de emergência criada. Um conjunto de medidas altamente desfavoráveis aos profissionais da Educação já estão sendo urdidas há algum tempo e é muito provável que patrões e governantes queiram aproveitar a onda da crise econômica mundial e da pandemia da gripe suína para pô-las em prática.

Não é de hoje que os donos das escolas particulares querem acabar com as férias dos professores, seja fracionando o mês de férias ao longo de todo o ano, seja forçando o retorno às aulas já no mês de janeiro (como acontece em algumas escolas de Nova Friburgo e de cidades da região), seja reduzindo ao mínimo o recesso de julho. Aliás, para alguns patrões, nem existe mais recesso em julho. Segundo eles, no meio do ano acontece o “descanso dos alunos”, como se o professor não precisasse recuperar suas energias, extremamente desgastadas pelo excesso de aulas ministradas nos diversos colégios em que é obrigado a trabalhar para compensar os baixos salários, pelo trabalho realizado em casa, nos momentos de folga, finais de semana e feriados!


A saúde do professor em perigo

A Síndrome de Burnout (do inglês burn out, significando “queimar por completo”), distúrbio psíquico de caráter depressivo, definido pelo psicanalista nova-iorquino Herbert J. Freudenberger como um estado de esgotamento físico e mental intenso cuja causa está intimamente ligada à vida profissional, é uma triste realidade que atinge grande parte do professorado brasileiro, em função do quadro perverso de trabalho experimentado pelos profissionais da Educação. Os sintomas físicos da doença são: dor de cabeça, distúrbios, irritabilidade, impaciência, propensão a largar o emprego, dentre outros. Muitas vezes, o profissional passa a ser visto como uma pessoa sem comprometimento, quando, na verdade, é vítima das condições precárias de seu trabalho. A Síndrome de Burnout é uma resposta a um estado de pressão muito grande, caracterizado pelo pela exaustão emocional.

O estresse é causado pelo excesso de compromissos profissionais; pelas contas a pagar no fim do mês, quando o salário já se foi; pelo desrespeito de alunos, pais e diretores; pela dificuldade cada vez maior de controlar as turmas; pela falta de cuidados com a voz, o mais importante instrumento de trabalho do professor; pela violência que invadiu a escola e a sala de aula; pela ameaça permanente do desemprego; pelos casos de assédio moral. E os patrões ainda querem reduzir o descanso do professor, aumentando dias letivos e carga horária, ao mesmo tempo em que reduzem salários, tentam impor o famigerado e ilegal banco de horas e retiram direitos históricos conquistados pelos trabalhadores? A que grau de calamidade querem, afinal, levar a Educação neste país?


Em defesa do calendário original

Quanto ao adiamento das aulas, deixamos clara nossa solidariedade às medidas de controle da gripe, mas que isso não signifique jogar todo o ônus da situação nas costas do professor, obrigado a repor aulas, ao se fazer avançar o calendário ou impor o trabalho aos sábados. Se as autoridades e os patrões decidiram, sem consulta ao professorado, pela suspensão das aulas, que esses dias sejam considerados dias letivos, já que se trata, na prática, de um caso de calamidade pública.

Por fim, exigimos, dos órgãos municipais responsáveis pela Educação e pela Saúde em nosso município, maior transparência e clareza nas informações sobre a epidemia em Nova Friburgo e a definição precisa de quais estratégias estão sendo adotadas para controlar o problema.


PRESERVAR NOSSOS DIREITOS É CUIDAR DA SAÚDE!
NENHUM DIREITO A MENOS! AVANÇAR NAS CONQUISTAS!