“Na França, os jovens se mobilizam contra os destruidores do futuro”

Para secretário do Movimento Jovens Comunistas, prioridade é atrair para luta

Abrahim Saravaki
l'Humanité

Para Pierric Annoot, secretário geral do Movimento Jovens Comunistas da França (MJCF), a prioridade é atrair todos os jovens para a batalha e, portanto, não ceder às tentativas de divisão da direita, trazendo todos os estudantes para a ação e fazendo um debate político de fundo. Veja a seguir entrevista com ele.

O governo fala que o projeto de lei da reforma previdenciária foi feito para os jovens. Qual é sua resposta?
Pierric Annoot – De fato, desde abril, Eric Woerth [ministro do Trabalho francês] não para de repetir que a reforma está sendo feita para os jovens que têm 20 anos hoje. Mais uma vez, o que é feito em nosso nome é feito sem nós e contra nós. Elevando a idade para a aposentadoria, menos empregos serão liberados e, portanto, o desemprego dos jovens, que já está em 25%, será agravado. É, assim, uma aberração que esconde uma mentira. A direita diz que quer salvar a seguridade social, mas sua reforma visa, pelo contrário, a empurrar os assalariados de hoje e de amanhã para a aposentadoria privada.


Como as condições de trabalho se degradam, muitos assalariados se encontram desempregados antes dos 60 anos e ainda o acesso ao primeiro emprego estável para os jovens chega em média aos 27 anos, a situação se trata de baixar o nível da pensão de cada um porque as pessoas não irão contribuir o suficiente. Com esse ataque, a solução que nos será apresentada para ter uma aposentadoria digna é a previdência privada, para alimentar os fundos de pensão e a especulação que nos colocaram na crise e arruinaram centenas de milhares de aposentados nos Estados Unidos. O que a direita não ousa dizer é que esta reforma não é feita para os jovens, mas para os atender aos apetites financeiros dos empresários.

Qual tipo de ação vocês estão adotando nos colégios?
São variadas. A prioridade é fazer discussões, intervenções nas classes e nas assembleias gerais. Depois passamos aos bloqueios, assim que isso é decidido pelos estudantes eles mesmos, ou ainda para as manifestações ou aos encontros em locais simbólicos. A prioridade é atrair todos os jovens para a batalha e, portanto, não ceder às tentativas de divisão da direita, trazendo todos os estudantes para a ação e fazendo um debate político de fundo.

Como manter a coesão do movimento face ao governo e aos elementos exteriores?
O MJCF é a organização da juventude mais presente nos colégios. Em todos os departamentos, os camaradas estão muito mobilizados para impedir que as forças da ordem multipliquem as provocações e a repressão, e que infiltrados entrem na mobilização.

Essa direita realmente humilhou os jovens ao ponto de estarem quase fazendo da nossa uma geração sacrificada no altar do rei dinheiro, assim, a vontade de lutar é profunda. Além da questão das aposentadorias e do trabalho, está a questão do futuro de toda a sociedade, a qual a juventude enfrenta com força nessa mobilização. O racismo de Estado, as expulsões dos estudantes sem papel, a repressão, a explosão das desigualdades escolares com as reformas da direita e a precariedade que afeta nossa vida alimentam uma cólera profunda. No fundo, sentimos que o que está em jogo é a questão da escolha de sociedade que vem junto com essa reforma e com o conjunto de políticas capitalistas, à saber: concorrência contra solidariedade, precarização contra seguridade, respostas às necessidades do mercado contra respostas às necessidades sociais.

São todas as questões que se cristalizam no movimento e que atravessam nossa geração. É isso também que assusta a direita e é, portanto, por essa razão que ela endurece o tom e a repressão. Logo, para manter a coesão é preciso não ceder às provocações e responder pela determinação e pela demonstração de força nas mobilizações pacíficas.

Já durante o CPE [protestos contra o Contrato do Primeiro Emprego, em 2006) a direita organizava a desordem e procurava o enfrentamento para desacreditar o movimento. A força da política finalmente triunfou sobre a política da força.

Vemos os jovens comunistas bastante ativos dentro do movimento. Como o senhor vê a perspectiva do movimento de jovens, estudantes secundaristas e universitários nos dias que virão?

As assembleias gerais de universitários se massificam e os secundaristas permanecem muito mobilizados. Nós saberemos derrotar essa armadilha da violência construída pela direita e massificar ainda mais as mobilizações de jovens. É nisso que trabalham cotidianamente os jovens comunistas de maneira unitária e conjunta.

A cólera é tão profunda que ela continuará a se manifestar. A entrada de jovens na luta nestes últimos dez anos foi benéfica e portadora de progresso, seja contra Le Pen em 2002, contra a guerra do Iraque, contra as reformas no ensino, a constituição europeia ou ainda o CPE. Hoje, os jovens são profundamente responsáveis e se mobilizam contra os destruidores do futuro, e eles serão ainda mais numerosos no amanhã. O desprezo da direita contra nós não a engrandece, mas faz crescer a mobilização.

Tradução: Luís Brasilino