Câmara de Nova Friburgo homenageia líder comunista

Em reunião solene promovida na noite de quinta-feira, 2 de dezembro, pela Câmara Municipal, por iniciativa do Vereador Cláudio Damião (PT), dirigentes políticos e sindicalistas prestaram bela e justa homenagem ao centenário de nascimento do líder operário comunista Francisco de Assis Bravo, mais conhecido como Chico Bravo.


A família do homenageado foi representada por Gessi Bravo (filha), Maria Helena (irmã) e Maria Roseli (sobrinha), além de netos de Chico, que receberam uma placa comemorativa do evento, das mãos dos vereadores Cláudio Damião e Luciano Faria (PDT), que presidiu a sessão. Também prestigiaram a sessão representantes do PCB, PT, PSTU, PDT e dos sindicatos de trabalhadores da cidade (Vestuário, Bancários, Saúde e Previdência, Enfermagem, Professores da rede pública e privada), assim como a Associação de Aposentados. Além de Damião e Luciano, compareceram os vereadores Renato Abi-Râmia (PMDB), Pierre Moraes (PDT) e Edson Flávio (PR).

O professor de História e membro do PCB Ricardo Costa (Rico) resgatou a trajetória de Chico Bravo e da militância operária e sindical em Nova Friburgo. Lembrou que Chico foi o único vereador cassado na história de Nova Friburgo, em 1964, pelo fato de ser comunista e ter ficado do lado do então prefeito Vanor Tassara Moreira, forçado a renunciar ao cargo em função das pressões dos militares e dos empresários, insatisfeitos com o governo marcado, dentre outras ações, pela tentativa de encampação da companhia de eletricidade (pertencente ao grupo Arp) e de enrentamento ao poder da FAOL (até hoje monopólio privado dos transportes públicos na cidade).

O camarada Rico ainda rememorou a significativa participação dos também militantes operários e comunistas José Costa (Costinha), Arquimedes de Brito e outros na organização das lutas dos trabalhadores friburguenses contra a exploração imposta pelos patrões e pelas fábricas. Em seguida, o camarada Sidney Moura, coordenador do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) e dirigente do PCB, afirmou que a melhor homenagem aos camaradas Chico, Costinha, Arquimedes, Lilito Cordoeira, Joaquim Nagle, dentre tantos outros velhos comunistas friburguenses, é manter acesa a luta contra o capital e em defesa da sociedade igualitária, o socialismo.

Também discurasram o representante do PSTU, Ricardo Mansur; o ex-vereador Bruno Calderado (pelo PDT) e o vice-presidente da Associação dos Aposentados, Sílvio Teixeira. Este último lembrou a corajosa atuação de Chico Bravo e as dificuldades de fazer oposição “em uma cidade nazista como Friburgo”.

O vereador Pierre Moraes destacou o importante legado deixado por Chico Bravo e por toda sua geração de militantes operários e sindicais, os quais devem ser sempre lembrados por sua persistência, bravura, honradez, senso de justiça e solidariedade. Para Cláudio Damião, o nome de Chico Bravo precisa ser eternizado em alguma rua ou praça da cidade. Segundo ele, Chico foi cassado por ser honesto, digno, decente e por defender os interesses dos trabalhadores e dos mais pobres na cidade.

Ao final do evento, emocionada, Gessi Bravo declarou: “Em nome de meus irmãos, que não puderam vir, e de toda minha família, agradeço esta homenagem. Estou muito feliz porque meu pai merecia esse reconhecimento”.

Quem foi Chico Bravo?

Francisco de Assis Bravo, Chico Bravo, ou ainda, Chiquinho Pimpão, como era mais conhecido em função do apelido ganho na infância por conta de suas travessuras, nasceu em 1910 na cidade de Nova Friburgo e com pouco mais de vinte anos já participava ativamente das lutas operárias no município.

No início dos anos 1930, com a fundação dos primeiros sindicatos de trabalhadores na cidade, o pedreiro Chico passou a atuar junto aos trabalhadores da Construção Civil, vindo a exercer, mais tarde, a presidência do Sindicato durante vários mandatos. Em janeiro de 1933, durante uma greve que parou as indústrias têxteis da cidade e acarretou a morte do jovem operário Licínio Teixeira, Chico e outros companheiros se encarregaram de pintar uma faixa de protesto com os dizeres: “O sangue de Licínio clama por vingança”.

Sempre engajado na luta dos trabalhadores por melhores salários e condições de trabalho, o sindicalista era admirado por sua coragem e persistência. Em março de 1960, quando o governador Roberto da Silveira esteve visitando Nova Friburgo, uma comissão de trabalhadores capitaneada por Chico Bravo e José Costa, o Costinha, foi a ele denunciar as condições de insalubridade a que estavam submetidos os operários nas seções de tinturaria das fábricas têxteis.

Com o resultado das eleições de 1962, ficou visível o crescimento dos grupos nacionalistas e de esquerda em Nova Friburgo. Na Câmara Municipal, a novidade foi a eleição do líder operário Chico, único vitorioso pelo PST, o partido de Tenório Cavalcanti, que abrira suas portas para os comunistas. Então com 52 anos, Chico conquistou a duras penas sua eleição para vereador, pois o clero católico conservador pedia às pessoas que não votassem nos candidatos comunistas.
Em 14 de abril de 1964, em função da repressão instaurada pelo governo militar, Chico teve seu mandato de vereador cassado, conforme resolução legislativa nº 85. Assim foi interrompida a trajetória do líder operário que, no Legislativo, destacara-se por suas intervenções firmes e por ter aberto diversas frentes de luta. Foi o único vereador cassado na história da Câmara Municipal de Nova Friburgo.

Após uma vida exemplar, marcada pela preocupação com as classes menos favorecidas, Chico Bravo faleceu em 16 de julho de 1998. Dotado de um exemplar espírito de solidariedade, ele nunca se abateu diante das adversidades provocadas pelas inúmeras perseguições políticas e tampouco deixou de acreditar no seu ideal de bravo comunista!

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