Escola-empresa? Não, obrigado!

Filipe Cavalcanti
UJC - Friburgo


A escola pública, uma conquista que deveria trazer orgulho para todos, encontra-se vazia de qualquer sentido emancipador para a consciência humana. Bombardeada diariamente pelas ações de nossos governantes, a escola falha em seu objetivo, atenuando e reproduzindo as desigualdades sociais planejadas pela Direita no poder, através de reformas e políticas públicas de educação contraditórias com as necessidades sociais, submetendo o espaço escolar e seus profissionais ao abandono.

Combinando táticas e estratégias, a burguesia, amparada pelo governo fascista de Sérgio Cabral, deseja implantar a ideologia individualista, dissimulando o caráter predatório da concorrência e a incessante busca por resultados, através de seus vazios números e estatísticas, atribuindo a responsabilidade aos profissionais de educação. É na escola-empresa, que vai triunfando sobre a escola pública, onde se desenvolvem os decretos que favorecem empresas terceirizadas, centraliza-se o poder em figuras estranhas à comunidade e sua realidade, favorecendo uma cultura de subordinação e alienação diante da classe dos profissionais de educação, tornando seu trabalho como o simples "apertar parafusos na cabeça de seus alunos".

Nenhum outro governo degradou tanto os direitos dos professores e suas condições de trabalho, desvalorizando a escola pública e os profissionais de educação que são sua essência.

A resposta não pode ficar somente no protesto. Resgatar o papel da escola pública necessita de projeto e organização. Com o capitalismo do século XXI cada vez mais selvagem e gressivo, faz-se necessário que ocorra uma ruptura com o passado. Somente através da luta - como a dos professores em greve em Nova Friburgo e todo o estado - uma escola que desenvolva a consciência humana em sua totalidade pode tornar-se realidade.

Analisando a atual conjuntura da classe dos profissionais de educação, particularmente os professores, e partindo da concepção de Marx sobre a realidade social como uma totalidade em movimento, composta por inúmeras contradições que colocam a todo momento a possibilidade de superação da ordem vigente, podemos observar a importância da necessidade de superação da fragmentação e falta de consciência pela classe de professores. A realidade objetiva imposta pelo capital fragmenta todos os grupos na sociedade e reproduz através de suas relações hegemônicas, concepções a-históricas que tendem a desestimular toda a luta dos professores, que muitas vezes assumem posições neutras e até contrárias em sua organização enquanto classe. O percurso para constituição de uma classe incluindo a construção de sua consciência não pode ser prevista cientificamente e ser analisada de forma mecânica e estrutural. Thompson ao trabalhar com a definição de Marx sobre o homem como um ser social, isto é, conjunto de todas as relações a qual está inserido, nos remete a refletir que o desenvolvimento da consciência tanto humana, quanto de classe vai depender da organização e luta dos trabalhadores ao longo do tempo.

Importante papel para materializar essas mudanças é a participação de nossos partidos de Esquerda, ressaltando a ação do PCB, partido que defende esta ruptura revolucionária e participação efetiva nos movimentos sociais, na defesa dos trabalhadores.

Um assunto que não podemos deixar de lado é a falsa oposição que alguns sujeitos colocam da participação dos partidos nos movimentos sociais, principalmente dos trabalhadores. Baseados na postura atual de alguns partidos que se denominam de "Esquerda", promovem um maniqueísmo resultando em uma satanização de todos os partidos, ocasionando uma enorme injustiça contra a Esquerda histórica que sempre lutou exemplarmente contra ditaduras e regimes fascistas como o do atual governador. Partidos e movimentos que concebem dois modos de representar o interesse popular, não são contraditórios, mas sim complementares; sua ação e luta acontecem em campos diferentes, mas objetivam os mesmos resultados. O partido é, de acordo com Gramsci, o "príncipe coletivo" popular que tem a função integradora de unificar a classe trabalhadora fragmentada pelas políticas burguesas.

Enfim, a participação do PCB na greve dos professores é fundamental, representando e lutando pelas prioridades de nossa sociedade, afirmando sua identidade, desenvolvida historicamente através de batalhas e conquistas contra a tirania das classes dominantes, e não será diferente com a educação.
Depois de 66 dias chega ao fim a greve dos professores onde importantes conquistas foram alcançadas através da movimentação dos trabalhadores, alunos, sindicatos, partidos, enfim, por todo campo social identificado pela luta contra as desigualdades e abusos cometidos contra a educação.

“Ousar lutar, ousar vencer”! Abaixo a "Escola S.A" já!