Solidariedade à Professora Marília Chermont

Divulgo esta nota com atraso, mas em tempo. Esperava que discutíssemos o assunto em assembleia, para que se aprovasse uma posição conjunta dos professores da FFSD, mas não houve tempo hábil, nem quorum, para que, na reunião ocorrida no dia de ontem, 06/12, fizéssemos o debate a respeito do tema.

Quero aqui externar minha contrariedade à forma pela qual a Professora Marília Chermont Bastos foi demitida pela Direção da Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia. Na condição de vice-presidente da Associação de Docentes da FFSD e de diretor do Sindicato dos Professores de Nova Friburgo e Região, sinto-me na obrigação de prestar irrestrita solidariedade à colega, que acumulou mais de trinta anos de cátedra na Faculdade. Tenho certeza que falo em nome de muitos professores da FFSD e do conjunto da diretoria do Sinpro.

Marília foi minha brilhante professora de Português, quando, nos primeiros anos da década de 1990, fui estudante do curso de História da FFSD. Depois tornei-me seu colega de profissão na mesma instituição e, com muito prazer, convivi, nesta condição, por exatos dezessete anos, com uma pessoa muito amiga, divertida, crítica e participante. Marília assumiu, por diversas vezes, o cargo de secretária da Associação de Docentes e também foi diretora do Sindicato. Aliás, antes mesmo de conhecê-la nos bancos da Faculdade, fizemos campanha política juntos, na Frente que reuniu o PT, o PSB e o PCB nas eleições municipais de 1988, quando ela foi candidata a vice-prefeita na chapa encabeçada pelo Dr. Renato Abi-Râmia, então filiado ao PT. Eu era (e continuo sendo) militante do PCB e ela, na época, era do PSB. Anos depois, ela emprestou seu nome para apoio à candidatura a prefeito do saudoso e querido Aristélio Andrade (PCB), em 2004. Virou correligionária. Se Aristélio fosse eleito prefeito, já havia escolhido parte de seu secretariado: Marília iria para a Educação, João Raimundo, para a Cultura.

Mas não é apenas por nossa amizade e nossos pontos de vista comuns na luta política e sindical que me senti na obrigação de divulgar essa nota de solidariedade a Marília. A forma como foi demitida é inaceitável. Sua demissão sumária, sem qualquer oportunidade de se defender, ocorreu em consequência de uma discussão mais áspera com uma aluna em sala de aula. A aluna em questão registrou queixa na polícia. Não quero entrar no mérito das razões que levaram a aluna a esta atitude. Marília pode até ter exagerado na forma como se dirigiu à aluna, mas foi absolutamente desproporcional a reação contrária. O lugar de se resolver as diferenças entre professores e alunos é a sala de aula, ou, no máximo, a sala das direções das escolas, jamais a polícia. A Direção da FFSD perdeu ótima oportunidade para tentar resolver pacificamente o conflito estabelecido, chamando para o diálogo as duas partes envolvidas e tentando dirimir as divergências.

O acontecimento abre um precedente muito perigoso: daqui por diante, qualquer entrevero entre professor e aluno em sala de aula pode redundar em caso de polícia e na demissão sumária do professor. Estamos vivendo tempos difíceis na Educação brasileira. O professor vem sendo cada vez mais achincalhado, apontado como responsável por tudo o que envolve o aluno e o sistema educacional. Ganha mal, sofre com as adversidades impostas pela estrutura desigual e injusta, resultante de um projeto de sociedade em que os interesses do mercado suplantam as necessidades da população e dos trabalhadores. Neste contexto, há a ação deletéria dos maus patrões e de governos arbitrários. Quando luta em defesa de seus direitos, o professor apanha da polícia. Em várias escolas, sofre o assédio moral de diretores e a violência de alunos. Se nem na sala de aula, seu sacrossanto espaço de expressão individual, o professor encontra a paz, o que será de todos nós?

Marília, conte com o apoio e total solidariedade de seu amigo e correligionário, eterno admirador das aulas de Comunicação e Expressão na Faculdade. O Sinpro de Nova Friburgo e Região coloca à sua disposição toda a humilde, porém, honesta e combativa estrutura que temos. Em defesa do professor, sempre!

Nova Friburgo, 07 de dezembro de 2011.

Prof. Ricardo da Gama Rosa Costa (Rico)