“Por nossos mortos nem um minuto de silêncio, toda uma vida de combate”

Inspirado no texto do companheiro Milton Pinheiro, intitulado “Hoje, os bravos venceram”



O regime burgo-militar brasileiro assassinou milhares de homens e mulheres que lutaram e entregaram suas vidas para que eu tivesse o direito de escrever este texto hoje, sem medo de ser presa, torturada e morta por isso. Os militantes, chamados pelos militares de criminosos, lutaram pela liberdade, combateram até o último instante a opressão e a exploração. Estes criminosos morreram para que pessoas como você e eu pudéssemos simplesmente dissertar sobre as desigualdades sociais, sobre a corrupção, sobre os assassinatos cometidos pelo Estado (ainda hoje), sobre perspectivas de futuro sem com isso sermos jogados em calabouços escuros e sujos para uma, duas ou três seções de tortura antes do “tiro de misericórdia”..


Inúmeros companheiros morreram e os que não morreram carregaram e carregam consigo as marcas de um regime cruel que não enxergou mulheres, filhos e mães. A ditadura está presente nos filhos e filhas dos desaparecidos, dos mortos e dos torturados; nas esposas, que em uma sociedade essencialmente machista as excluíam do mercado de trabalho, e que foram forçadas a mendigar, a implorar e se submeterem a humilhações diversas para sustentarem seus filhos depois do desaparecimento de seus maridos; esta maldita ditadura esteve por muitos anos presente na dor das mães que não puderam enterrar seus filhos e filhas, no desespero dessas mães que morreram procurando seus filhos e fecharam seus olhos pela última vez acreditando que eles pudessem de repente abrir a porta e lhes afagar com um último abraço; a ditadura estará sempre presente nos corpos das mulheres violentadas pelos capachos do Estado e tiveram dentro de si a presença de seus algozes. A ditadura está presente na fotografia da parede, no violão que não toca, na voz que não se houve, na mão que não ergue a bandeira.

Como dói em todos nós, militantes comunistas, revolucionários. Como dói conviver com a impunidade. Como nos enoja conviver com os algozes de nossos companheiros, passear nas praças que levam o nome desses assassinos, percorrer as avenidas e ruas que homenageiam torturadores, estupradores e assassinos! Quanto indignados somos pelas representações que a sociedade nos deu, nós comunistas criminosos, eles heróis da pátria. Nós pervertidos, vagabundos, eles dignos de homenagens monumentais. Enquanto as viúvas de nossos companheiros alimentaram e criaram seus filhos com o suor de seus trabalhos, eles recebem de nossos bolsos as vultosas aposentadorias pelos serviços prestados à nação.

Não negaremos Carlos Danielli, vingaremos seus sangue! Porque Nestor Veras e todos os nossos companheiros não morreram em vão. E nossa dor e angústia serão transformadas em força motriz na luta pela revolução socialista, pela liberdade plena, pela igualdade e pela verdadeira JUSTIÇA! Paredão de fuzilamento para os torturadores! E que seus nomes estejam para sempre nas páginas sujas da história adjetivados, corretamente, como ASSASSINOS.

Juliana Rosa

Maio/2012